(II Reis 6:24-33; 7:1-20)
No Salmo 30:5 “Ao anoitecer pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã”; e os textos de II Reis, retratam muito bem este verso – um tempo de choro e de dor para o povo de Samaria, mas que terminou numa linda manhã de alegria, benção e felicidade proporcionada por Deus. Tratava-se de uma guerra e não de incursões e ataques repentinos, pois o rei da Síria, sem causa alguma, ajuntou todo o seu exército e sitiou a cidade de Samaria (nesta ocasião, Samaria era a capital do Reino do Norte [Israel] e manteve sua importância até os dias de Jesus Cristo), tornando a vida de seus habitantes um vale de lágrimas, uma tragédia.
Qualquer guerra seja ela comercial, territorial, familiar ou financeira, deixa marcas profundas em todos os envolvidos e mesmo conhecendo as suas causas, não são removidas a dor e as perdas dela advindas, que podem desestabilizar a vida com conseqüências gravíssimas como diminuir nosso Deus, a nossa auto-estima e até enaltecer o próprio inimigo.
O cerco a Samaria durou tanto e causou tamanha fome que uma cabeça de jumento (uma carne até então desprezível) chegou a valer oitenta siclos de prata (um siclo equivalia a doze gramas), e uma caneca de esterco de pomba (variava entre um e dois litros), que servia como combustível para cozinhar a carne, valia cinco siclos de prata e mais todo o tipo de humilhação que uma guerra pode produzir, estava acontecendo na vida dos samaritanos que eram o povo de Deus. Um dia, quando o rei de Israel inspecionava os muros da cidade, uma mulher gritou para ele: “Socorro, Majestade!” O rei respondeu: “Se o Senhor não a socorrer, como poderei ajudá-la? Não há trigo na eira ou vinho no tanque de prensar uvas”. A fome também havia chegado ao palácio. Contudo ele perguntou: “Qual é o seu problema?” E a mulher contou a tragédia da sua vida (leia v 28 b e 29). Por mais drástico que isto nos pareça, esta história é verdadeira e havia sido profetizada pelo próprio Deus que um dia isto iria acontecer no meio de seu povo (leia Deuteronômio 28: 49-53).
Sabemos que numa guerra ambos os lados almejam a vitória e no final da batalha, a alegria de um será a tristeza do outro. Teremos guerras e batalhas em nossa vida; a Palavra de Deus nos diz que poderemos passar por isso (leia Isaías 43:2) e outros versículos bíblicos dizem que o Senhor é o “Senhor dos Exércitos” que nos ajuda na guerra. Uma das lições que temos no texto de II Reis, é que provavelmente uma guerra se inicie por uma atitude maldosa, violenta do inimigo, que de repente nos elege para liquidar-nos em nossa caminhada, promovendo assim a sua glória sobre nossa derrota.
A primeira reação humana que aparece no texto é culpar a Deus – “Se o Senhor não a socorrer, como poderei ajudá-la?”, como a dizer: “se Deus que é Deus não a socorre, não serei eu que o farei.” Não é difícil encontrar este procedimento dentre nós ou este sentimento em nosso coração, principalmente quando “o fogo é mais intenso”, quando a batalha é acirrada. Parece-nos que o Senhor está omisso em algum cantinho da nossa vida. Depois de culparmos Deus pela nossa dor, nossas perdas, nosso choro, culpamos seus profetas (leia v. 31), rompendo com a Sua palavra. O rei de Israel estava determinado a matar o profeta tendo assim um rompimento frontal com Deus e com Sua palavra, fechando completamente seu coração para qualquer orientação vinda do Senhor (leia v. 33).
Somos preparados para problemas momentâneos, passageiros, “choro rápido”, guerra que se vence fácil, mas quando a Bíblia diz que “o choro pode durar uma noite”, “noite” pode significar um longo período. Naquela ocasião, a batalha estendeu-se por muito tempo e o inimigo prevalecia; as forças do povo de Deus estavam sendo minadas, seus recursos roubados, e o inimigo estava a porta e não se retirava; estava abastecido de armas e alimento com um exército bem treinado e o povo ia perecendo, comendo “pão de dores” dentro dos muros da cidade, impedidos de saírem até para sepultar os mortos pela fome, chegando ao ponto de uma mãe perder a fé, a razão, a lucidez e comer o próprio filho. Nestes momentos cruciais perdemos o que nunca deveríamos perder e abandonamos o que jamais deveríamos abandonar – a fé, pois nos afastamos a tal ponto do Senhor que não mais O ouvimos, nada mais esperamos e nada mais recebemos d’Ele.
A partir do capítulo sete, vemos que Deus tem uma solução divina para o problema do choro, para que a alegria da manhã possa chegar numa vida. No v.1 Eliseu repete as palavras do Senhor sobre a solução divina e no v. 2 vemos a reação incrédula do oficial do rei (leia v 1 e 2). A descrença, a ausência de fé, não somente é um grande pecado contra Deus, mas também priva indivíduos e nações de bênçãos que Deus lhes deseja entregar. Neste caso, o pecado individual, tem conseqüências nacionais. O mesmo ocorreu com o povo de Israel quando saiu do Egito, forçando-o a caminhar por quarenta anos no deserto (Números 13:25; 14:38). Diante da palavra do Senhor proferida pelo profeta Eliseu, o rei calou-se recuando, mas seu oficial manifestou claramente sua incredulidade na solução divina. Geralmente, quando estamos vivendo uma situação de flagelo, de dor, de luta e desespero, quando nosso coração já abandonou a fé e passamos a crer que o mal veio do Senhor, passamos a não aceitar mais a Sua palavra porque ela fica muito diferente da realidade em que vivemos. Esta é a solução humana do problema, mas a solução divina para “uma noite de choro”, ou “um período de guerra”, é manter a fé, mesmo que a palavra de Deus dada, ordenada, direcionada, percebida, seja muito fora da realidade que está se vivendo.
O ofício de um profeta era falar a palavra do Senhor em qualquer situação, sendo ela de paz ou de crise; falava a palavra de Deus e não a sua, em qualquer momento da vida. E pela incredulidade do oficial, Eliseu profetizou: “Você o verá com os próprios olhos, mas não comerá coisa alguma!” A Bíblia diz que para Deus não existe noite ou dia, pois Ele é o mesmo ontem, hoje e para sempre (Hebreus 13:8). Para um Deus eterno, o socorro nunca chega atrasado; para o criador e sustentador de todas as coisas (Jeremias 51:19), não existe tempo perdido. Ele tem o exato controle da vida, da guerra, da batalha; por isso se identifica como “Senhor dos Exércitos”. É o Senhor dos céus, da terra, de toda a criação, da humanidade. Sendo o Senhor, Ele é soberano, pois tem o perfeito controle sobre todas as coisas. Por ocasião da morte de Lázaro (João 11: 1-46), Marta foi ao encontro de Jesus destilando sua dor: ”Senhor, se estivesses aqui meu irmão não teria morrido” (v. 21). Disse-lhe Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá” (v. 25). O Cristo crucificado e morto numa sexta-feira, no dia seguinte descia às regiões mais profundas da terra, pregando aos espíritos em prisão a sua vitória. Estava vivo como nunca, vencedor e vitorioso como nunca, anunciando Seu evangelho no mundo espiritual, mas anunciando também a Sua vitória.
Nos bastidores de uma guerra ocorre muita coisa que nossos olhos não podem ver, que nossos sentidos não podem perceber, principalmente quando se trata de uma batalha espiritual que acontece quando o inimigo cerca uma vida. Porém não existe “último dia” para quem tem fé. A palavra do homem de Deus (Eliseu) era – “amanhã”.
A morte pairava tanto dentro como fora dos muros, onde estavam quatro leprosos à entrada da porta, pois lhes era proibida a entrada na cidade (leia II Reis 7: 3 e 4).Mesmo com a morte cercando-o de todos os lados, resolveram confiar na palavra de Deus, pois não existe vitória em desconfiar do Senhor; não existe nenhuma orientação bíblica dizendo que há livramento, glória, honra, saída, solução na desistência. Diante da dor, fragilizada, a primeira atitude da pessoa é culpar Deus; depois é sair da igreja, pois ela quer romper com a Palavra, deixar de adorar e de louvar ao Senhor. Mas não há nenhuma glória nem solução nesta atitude. É verdade que muitas vezes há morte dentro da igreja, mas sem dúvida alguma há morte fora dela. A diferença é que Deus só está dentro da igreja e nunca fora dela. Com morte ou sem morte, Deus anda “entre os sete candeeiros de ouro que são as sete igrejas da Ásia (leia Apocalipse 1: 20 e 2: 1) que representam os sete períodos da Igreja durante toda a sua história. Não importa o que aconteça com a Igreja, se está em choro ou alegria, se ganhando, recuando ou vencendo, pois a Bíblia diz que Deus está no meio dela e “as portas do inferno não prevalecerão contra ela”(Mateus 16: 18). O inferno pode até ganhar uma batalha, mas a guerra é do Senhor que não conhece derrota.
A primeira solução divina para quem está vivendo “um período de choro” é crer na Palavra (cap 7: 1), até mesmo quando não se tem mais saída. Os samaritanos estavam muito fragilizados para guerrear, para organizarem-se, para pensar, para planejar, mas o Senhor esperava que eles pudessem crer. Quando não podemos mais acreditar em nós mesmos, nos amigos, na família, no Brasil, no sistema financeiro ou em qualquer outra coisa em que já apoiamos a nossa fé, não deixemos de acreditar na Palavra de Deus, pois Deus está acima de todas as coisas. Ele pode sim “abrir janelas no céu”, dar solução onde ninguém pode, reverter um quadro, mudar a situação de uma nação, de uma vida, de uma família; o Senhor é o único que pode e não temos nenhum motivo para não crermos n’Ele. Ao lermos a Bíblia, estudarmos os caminhos de Deus e os seus feitos chegaremos facilmente à conclusão de que o mal não vem do Senhor. Ele até permite que o mal nos atinja para que entendamos quais são os Seus caminhos. Você está vivendo uma guerra? Deus tem uma solução – mantenha a sua fé. Se lhe roubarem tudo, não permita que roubem a sua fé. Se lhe tirarem tudo, não deixe que lhe tirem a fé porque, permanecendo com ela, poderá ter tudo de volta, mas sem a fé, de nada vale a vida. A Bíblia diz: “... e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé” (I João 5:4). Enquanto tivermos fé na palavra de Deus (“Assim diz o Senhor:”), podemos descansar, mesmo não entendendo o que Ele está dizendo ou fazendo.
A segunda solução divina que encontramos no v. 4 do capítulo 7, é avançar. Geralmente em tempo de batalha, em tempo de perdas, a primeira atitude que queremos tomar é recuar. Mas aprendemos com os leprosos que não há glória, não há saída, não há solução em recuar. Se tiver que morrer dentro, fora ou avançando, por que não morrer crendo? Se não podemos avançar guerreando, podemos fazê-lo crendo. Era tão somente esta atitude que Deus esperava dos samaritanos. Não disse a eles que deveriam pegar as armas e irem à luta porque a guerra era d’Ele. Sensíveis à palavra do Senhor, provavelmente tocados pelo Espírito Santo, os leprosos entenderam que, se a morte era sobre eles, melhor morrer como bravos, como heróis. O mundo caminha para o caos e o caminho é difícil, mas é um caminho de vitória! Está baseado na Palavra do Senhor e o Senhor não conhece derrota! Se nesta difícil travessia não podemos fazer outra coisa, cresçamos na fé, porque a fé não faz questão de entender o que Deus está fazendo – ela quer crer. Ela procura obedecer mesmo quando não consegue entender os desígnios divinos. Num dia aceitamos o chamado do Senhor e Ele não chama alguém para perdê-lo no meio da caminhada. Não cremos que Deus chama as pessoas, perdoa-lhes os pecados, escreve seu nome no Livro da Vida, resgata-lhes com o sangue de Jesus para depois abandoná-las no meio do caminho. Não encontramos nada disso na Palavra. Se desistirmos, esta decisão é puramente humana para “um tempo de choro”.
A terceira solução divina está no v. 6. O Senhor lutará com o inimigo. Ele usou a “Sua arma” contra os sírios (leia v 5-7). Os leprosos que haviam decidido irem até o acampamento dos arameus para se renderem, encontraram-no totalmente abandonado (leia v 8 e 9). Numa batalha que está intensa, temos que crer na Palavra do Senhor, manter o curso sem nos prender ao armamento e treinamento do inimigo e crer que o Senhor já fez o “seu barulho” no meio do arraial do inimigo. Pena que muitos desistem justamente quando o Senhor já está entrando com providência – é Deus agindo e o seu povo desistindo! É Deus operando e o seu povo “desmaiando” de terror, valorizando o inimigo e diminuindo o seu Deus (leia v 10-12).
Em Tiago 1:17 lemos: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das Luzes, que não muda como sombras inconstantes”. Tiago realça a constância de Deus e afirma que nosso Pai, perfeito em benevolência, rodeia o nosso caminho com dádivas. Quando o Senhor age decretando a vitória na vida do seu povo, ninguém pode mudar aquilo que Ele já fez. Aleluia! Quando Deus opera, existe um amanhã, ainda que o choro dure uma noite inteira, ainda que a batalha se estenda ou a luta se prolongue. Quantas vezes já não desistimos da batalha quando o Senhor não havia dada a luta por perdida e a benção já estava a caminho? (leia o v. 16). O fato ocorrido foi “conforme o Senhor havia dito” e não segundo o profeta Eliseu.
O mesmo Deus que outrora mandara o maná para seu povo no deserto, agora estava provendo, com abundância de alimento, as necessidades de seu povo afligido pelo inimigo, a um preço reduzido. (Leia os v 17 e 18). Este oficial era um dos favoritos particulares do rei, e foi colocado para supervisionar a venda de alimentos. A violência da fome do povo culminou com uma situação de desespero tão grande que a massa popular debandou, causando a morte do oficial e cumprindo assim a profecia de Eliseu, que era a palavra do Senhor. Esta palavra sempre se cumpre e se a bíblia diz que o choro pode durar uma noite, isto pode se cumprir em nossa vida. Mas há uma promessa: a alegria virá pela manhã! Aleluia! Enquanto o amanhã não chegar, não podemos desistir. Devemos crer, avançar e entender que o Senhor já entrou com providência, pois quando o Senhor fala e faz, ninguém mais pode falar e fazer porque Ele é o Senhor!
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