quinta-feira, 21 de abril de 2016

As Obras da Carne O Inimigo Interior

As Obras da Carne ­ O Inimigo Interior
O tempo parece ser propício para o bom sentimento religioso.  Há um espírito de alegria, a mensagem é animadora.  E contra isso em si não temos queixa.  O evangelho é uma mensagem bem positiva.  É uma mensagem de salvação e de redenção ­ uma palavra de graça e de alegria.  Mas não é uma graça barata, nem uma alegria fácil.  E é exatamente aqui que me encontro ansioso com o espírito religioso de nossos dias ­ um espírito que embrulha e vende o "evangelho" como se faz com óleo de cobra, um remédio de charlatão de rápida ação, que cura tudo e nada exige.  Como certa vez observou C. S. Lewis, o evangelho no final das contas é bastante confortador, mas não se inicia assim.  A palavra de Cristo no começo nos desfaz em pedaços num desmascarar doloroso de nossos pecados (veja Romanos 13), depois com amor e cuidado nos torna inteiros de novo (Salmos 51:8).  O evangelho é livre, mas não é fácil.  Não há nascimento sem dores de parto, não há liberdade sem disciplina, não há vida sem morte, não há "sim" sem "não".  É nesse espírito que se escolheu o tema desta edição da revista.  Não para levantar um eterno "Não", mas para reconhecer que a vida em Cristo tem inimigos mortais que têm que ser resistidos sem compromisso.

O que Paulo quer dizer com a "carne"?  Será que os homens receberam duas naturezas na criação ­ uma má e outra boa?  Ou será que pelo pecado de Adão entrou no homem alguma perversidade profundamente arraigada?  A resposta a essas duas perguntas é um inequívoco "não".  Quando Deus criou o homem, este foi declarado completamente "bom" (Gênesis 1:31).  Todo homem que pecou desde Adão até os nossos dias não o fez por necessidade, mas por livre escolha.  Os homens pecam porque querem (Eclesiastes7:29).  Não somos espirituais nem carnais por natureza, mas somos capazes das duas coisas, e, como seres humanos, temos de escolher entre esses dois caminhos e nos responsabilizar por nossa escolha.

Embora Paulo às vezes use "carne" (sarx) em referência ao corpo físico (Romanos 2:28) ou ao aspecto humano (Romanos 3:20), a palavra significa muito mais do que isso em Gálatas 5:16-24.  O corpo pode tornar-se um instrumento da glória de Deus (Romanos 12:1; 1 Coríntios 6:20), mas a "carne" não (Romanos 8:5-8).  O corpo pode ser redimido e transformado (Romaos 8:23; Filipenses 3:21), mas a "carne" deve morrer (Gálatas 5:24).
A "carne" que milita contra o Espírito não é a mente ou o intelecto, pois a mente, como o corpo, pode ser transformada e renovada, treinada para servir aos propósitos divinos (Romanos 12:2).
Essa "carne" não é nem a mente nem o corpo em si mesmos, mas uma atitude pela qual o homem opta e que o põe contra Deus.  Na "mente carnal", a vontade do homem torna-se suprema.  Seus desejos têm que ser atendidos acima de todas as coisas.  Estes podem ser as concupiscências da carne ou os desejos da mente (Efésios 2:3), mas serão satisfeitos a qualquer custo.  É por isso que "as obras da carne", contra as quais Paulo adverte, abrangem mais que os apetites do corpo.  Na realidade, se possível, estes são as menores das enfermidades espirituais.  É na mente que escolhemos servir a nós mesmos.  É na mente que nos tornamos arrogantes e egoístas e tomamos decisões que desonram o corpo (Romanos 1:24) e escurecem o raciocínio (1:21).  Viver em toda obra da carne significa fazer o que eu quero ­ não simplesmente satisfazer os meus desejos carnais mais baixos, mas atender os desejos do meu ego.  O orgulho e a paixão vivem na "carne" em perfeita harmonia.

Precisamos conhecer os nossos inimigos.  Os artigos que se seguem nos ajudarão a identificá-los melhor.  Não são as pessoas, mas os desejos perversos que procuram roubar o nosso coração de Deus.  Existe uma forma racional de enfrentarmos esses adversários ­ crucificá-los impiedosamente e sem olhar para trás (Gálatas 5:24).  Será penoso (1 Pedro 4:1), mas não tanto quanto a perda da eternidade.

Deus é. Deus está. Deus faz.

Salmo 46

"Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus; serei exaltado entre os gentios; serei exaltado sobre a terra." Salmo 46:10

Salmo 46Deus é. Deus está. Deus faz

A maioria dos leitores das Escrituras conhece o Salmo 46. Quem nunca leu este belo Salmo?

Convido você, prezado leitor [a] a mergulhar neste Salmo comigo, e ver a profundidade que encontramos nele. Um dos “segredos” de uma boa exegese de um texto, é conhecer o sentido histórico em que o texto foi escrito. Quando sabemos o que se passava quando o texto foi escrito, falamos com muito mais propriedade e segurança, trazendo luz e entendimento aos ouvintes.

Há um consenso entre os estudiosos que este salmo serviu de inspiração para o hino “Castelo Forte é Nosso Deus”, composto por Martinho Lutero. Há uma possibilidade muito grande que o contexto histórico em que foi escrito este salmo, seja a ocasião em que Deus livrou Jerusalém dos assírios no tempo do rei Ezequias (II Rs 18-19; II Cr 32; Is 36-37). Será bastante proveitoso ler estes textos para um melhor entendimento deste salmo.

O rei Ezequias era poeta, e é possível que tenha escrito não apenas este salmo, mas também o 47e o 48, provavelmente no mesmo contexto histórico, onde a vitória do Senhor é celebrada sobre o inimigo.


1 - Deus É nossa fortaleza  (Sl 46.1-3) – a palavra traduzida por “refúgio”, no verso 1, significa “um abrigo, uma rocha de refúgio”, enquanto essa mesma palavra, nos versos 7 e 11, quer dizer “um baluarte, uma torre alta, uma fortaleza”. É isso que Deus estava dizendo para o povo: “Quando o inimigo vier, Eu serei o vosso abrigo, serei uma rocha, é como se o povo, estivesse escondido dentro da rocha, num lugar inatingível!” Os dois termos declaram que Deus é um refúgio confiável para seu povo quando tudo ao seu redor parece estar desmoronado (Sl 61.3; 62.7,8; 142.5). Mas Ele não nos protege a fim de nos mimar. Não. Antes, abriga-nos a fim de nos fortalecer para que voltemos à vida com suas responsabilidades e perigos.

A palavra “tribulações” refere-se a pessoas em lugares apertados, encurraladas num canto e incapazes de sair dessa situação. Veja que estratégia maligna dos exércitos assírios, eles queriam encurralar o povo de Deus, deixarem sem recursos para uma saída. Talvez, você leitor [a] se encontra nessa mesma situação, em que o inimigo quer te encurralar, lhe deixar à mercê de seus ataques. Mas a Palavra de Deus para estas situações é: “Não temas!”. Quando os oficiais assírios ameaçaram Jerusalém, Isaías disse ao rei: “Não temas por causa das palavras que ouviste” (II Rs 19.6). Esta é a palavra de Deus para você. Talvez você não veja o livramento, tudo parece perdido, o inimigo se agiganta, mas ouça a Palavra de Deus – “não temas!” A terra pode mudar, as montanhas podem ser arremessadas violentamente no mar, podem vir terremotos e maremotos, mas todas as coisas estão sob o controle de nosso Deus. Ele é nossa fortaleza e nosso refúgio em meio às incertezas da vida.


2 - Deus Está no meio (Sl 46.4-7) – A cena seguinte mostra Jerusalém, onde o povo encontrava-se sitiado pelo exército assírio. A água era um bem precioso na Palestina, especialmente em Jerusalém, uma das poucas cidades da Antiguidade não construída à beira de um rio. Ezequias havia usado de sabedoria e construído um sistema subterrâneo de abastecimento que ligava os mananciais de Giom, no vale de Cedrom, ao tanque de Siloé, dentro da cidade, de modo que havia água disponível (II Rs 20.20; II Cr 32.30). Que fantástico! Ezequias estava querendo dizer: “Ainda que ele [inimigo] corte nosso suprimento de água, e aí, poderia ser caracterizada a derrota do povo de Jerusalém, Ezequias diz:” Há um rio, cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo”. O poeta sabia que Deus era o seu rio, aquele que supre a água da vida (Sl 36.8; 65.9; 87.7 e Jo 7.37-39). No tempo do rei Acaz, Isaías comparou uma invasão dos assírios a um rio transbordante, mas lembrou o povo que seu Deus era como um rio tranqüilo (Siloé) que lhes traria a paz (Is 8.1-10).

O verso 5 diz: “Deus está no meio dela” – ainda que eles estivessem encurralados, sem saída, o Deus Eterno está no meio dela. Ou seja, ninguém os derrotaria, pois Deus era aquele que comandava tudo!

Sem dúvida, Jerusalém era uma cidade santa, separada por Deus, e que abrigava seu santuário, mas isso não era garantia alguma de vitória (Jr 7.1-8). A fim de que o Senhor os ouvisse e salvasse, o rei e o povo precisavam voltar-se para o Senhor com uma atitude de contrição e fé – foi o que fizeram. Deus socorreu Jerusalém quando o dia amanheceu (“desde antemanhã”; vs 5), pois o Anjo do Senhor matou 185 mil soldados assírios e mandou Senaqueribe de volta para casa (Is 37.36).


3 - Deus faz cessar a guerra (Sl 46.8-11)  – a terceira cena mostra os campos ao redor de Jerusalém, em que os soldados assírios estão mortos, suas armas e equipamentos espalhados e quebrados. Não havia ocorrido batalha alguma, mas o Anjo do Senhor deixara esses vestígios, a fim de estimular a fé do povo de Deus.

“Vinde, contemplai as obras do Senhor, que assolações efetuou na terra” (vs 8). O Senhor derrotou e desarmou seus inimigos e destruiu suas armas, de modo que não podiam mais atacar.

“Aquietai-vos” quer dizer, literalmente: “Não mexam em nada! Descansem!”. Nós gostamos de “mexer em tudo” e de dirigir nossa vida a nossa maneira, mas Deus é Deus, enquanto nós não passamos de servos do Senhor. Pelo fato de Ezequias e de seus líderes terem permitido que Deus fosse Deus, Ele os livrou de seus inimigos. Foi assim que o rei Ezequias orou: “Agora, pois, ó Senhor, nosso Deus, livra-nos das suas mãos, para que todos os reinos da terra saibam que só tu és o Senhor Deus” (II Rs 19.19).

O Senhor chama a si mesmo de “Deus de Jacó”, e lembramos como Jacó meteu-se em apuros em várias ocasiões por tentar intervir nas circunstâncias e fazer o papel de Deus. Há um momento certo para obedecer a Deus e agir, mas até que chegue essa hora, devemos deixar Ele trabalhar livremente, a seu tempo e a seu modo. Em outras palavras, deixe Deus ser Deus em sua vida.

Nele, que É , que Está, e que Faz tudo para a glória Dele


Bibliografia: Wiersbe, Warren. Comentário Bíblico. Geografia Editora 2006

Autoria do texto: Pr Marcello de Oliveira